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Os quatro Arquétipos, as faces do masculino

Para introduzirmos o assunto sobre Arquétipos, convido você a voltar no tempo, lá na antiguidade europeia, há milhares de anos atrás.


Antes do cristianismo, quando aquela região ainda era politeísta. Se você fosse a Roma nesse período, veria cultos a um tal deus Marte, deus da guerra, que protegia e dava força aos guerreiros romanos. Agora, convido você a viajar para a Grécia, ainda no passado, onde você veria estátuas e mitos sobre um tal deus Ares, também deus da guerra, mas dessa vez um deus odiado pelos intelectuais gregos.


Por que lugares diferentes do planeta possuíam divindades para cultuar um mesmo aspecto da vida, o Guerreiro?


Ok! Talvez você considere Roma e Grécia perto demais, o que poderia justificar a semelhança cultural. Então, viaje para a África Ocidental, berço da cultura Iorubá e do culto aos Orixás. Ali, Ogum era cultuado como um orixá guerreiro. Mas não para aí… Tyr para os nórdicos, Arcanjo Miguel para os cristãos. Cada cultura possui seu próprio guerreiro para adorar, rezar ou odiar.


Na atualidade, a atração pelo Guerreiro ultrapassa o culto a deuses nas religiões e chega aos filmes e séries. Por que o Rocky Balboa se tornou uma lenda do seu tempo que ultrapassa gerações? Luke Skywalker com seu sabre de luz? Ou, mais atualmente, por que a série Vikings fez tanto sucesso?


A resposta é porque há, dentro da psique de todo ser humano, um guerreiro que possui uma função importante para a vida humana, por isso ele tem o poder de influenciar e moldar o nosso comportamento.


Assim como nosso corpo físico possui órgãos com funções específicas para o bom funcionamento do nosso organismo, nossa psique (mente) também possui divisões, como se fossem “órgãos”, com funções particulares, os quais o psicoterapeuta Carl Gustav Jung chamou de Arquétipos.


O que são os arquétipos?

Arquétipo significa “padrão original”, portanto, se trata de uma herança compartilhada entre toda a nossa espécie, entre todos os seres humanos.


Por exemplo, o arquétipo materno faz com que todo ser humano tenha um lugar especial dentro da sua psique, responsável por lhe ajudar a se relacionar com a primeira figura feminina e cuidadora da sua vida, a mãe. De forma cultural, podemos ver que há inúmeros registros de culto a “Grande Mãe” há milhares de anos atrás, espalhados pela Europa e pela Ásia. É interessante observar o quando o culto a Nossa Senhora Aparecida, mãe de Jesus Cristo, é extremamente forte na religião católica, principalmente no Brasil. A mãe, não só a biológica, mas todo seu simbolismo nos encanta. É como se a deusa mãe nos ajudasse a evoluir e ampliar a relação com nossa mãe biológica e tudo que ela representa.


Como os arquétipos se tratam de uma herança da nossa espécie, trazemos dentro de nós as memórias do passado, as experiências dos nossos ancestrais, que servem como legado do aprendizado adquirido por eles. Os arquétipos são estruturas que se provaram, ao longo do tempo, serem indispensáveis para o nosso desenvolvimento.


Imagine os arquétipos como uma forma de bolo. Essa forma já tem um formato pronto e estabelecido, mas o indivíduo irá preencher essa forma de maneira específica, de acordo com a cultura que está inserido e com a sua história pessoal.


Voltando ao Guerreiro, por exemplo, existem pessoas que expressam com facilidade o Guerreiro em sua vida, são agressivas e batalhadoras, colocam limites e impõem a sua vontade. Por outro lado, há outras pessoas que possuem dificuldade de colocar essa energia guerreira para fora, possuem dificuldades em impor limites, dizer “não” e conquistar seus objetivos.


Dessa forma, os arquétipos regulam nosso comportamento, colorindo e dando emoção às experiências da vida. Cada indivíduo possui uma experiência mais aflorada com um ou outro arquétipo, mas carrega em si a semente de todos eles.


Nesse e-book, irei trazer para vocês os arquétipos do masculino, que foram muito bem explorados por Robert Moore e Douglas Gillette no livro “Rei, Guerreiro, Mago e Amante”.


Veja, se arquétipos são heranças presentes na psique de todo ser humano, então os arquétipos do masculino estão presentes em todas as pessoas. No entanto, eles se mostram em destaque na vida dos homens, são estruturadores no nosso comportamento e influenciam sobremaneira em nossa qualidade de vida. Seu estudo é de extrema relevância para qualquer homem que esteja buscando se desenvolver.


Além disso, quando estudamos suas variações (expressão equilibrada e desequilíbrios), eles também funcionam como modelos de comportamentos maduros nos quais podemos nos inspirar. São como referências, um mapa para que saibamos melhor por onde ir.


Podemos entender que esses arquétipos são os personagens/imagens que habitam dentro de você. Eles fazem parte da psique adulta do homem. São eles: Rei, Guerreiro, Mago e Amante.



A psique adulta e a psique do menino


Aqui temos que fazer uma diferenciação entre a psique adulta e a psique do menino. A diferença fundamental na transição de menino para homem adulto se dá com relação ao aumento da responsabilidade.


O menino se comporta e se desenvolve sob o padrão de que o mundo deve satisfazer suas necessidades básicas: ensinamentos, proteção parental, segurança e alimento. Já o adulto, em primeiro lugar, precisa aprender a se responsabilizar pelas próprias necessidades. Em segundo lugar, ele precisa se responsabilizar pelo ambiente ao seu redor, sua casa, seu quarto, seu escritório, a natureza, as ruas da cidade. Em terceiro lugar, ele se responsabiliza pelos outros, oferecendo seus dons e talentos para o desenvolvimento da sua comunidade. Oferecendo cuidado, orientação e proteção aos meninos.


Uma das grandes causas da crise da masculinidade, pela qual vivemos hoje, é a falta de ritos de passagem que façam o homem passar de menino para adulto. A crise da masculinidade é composta por homens inseguros com relação a sua masculinidade. Homens que agridem e violentam aqueles que o questionam, acreditando que ser o “machão” é ser homem. Ou ainda, uma parcela significativa que sente culpa por ser homem, se desculpam, sofrem de ansiedade, disfunção erétil, como se tivessem perdido a conexão com o próprio corpo e identidade masculina.


A falta de uma boa orientação para os homens cria as expressões distorcidas dos arquétipos, que são as inflações (super identificação com o arquétipo) e as deflações (falta de identificação). Assim, vemos homens com corpo físico de adulto, mas um desenvolvimento emocional de menino.


Robert Moore e Douglas Gillette, no livro “Rei Guerreiro Mago Amante” dizem que é provável que não exista um homem no mundo expressando os quatro arquétipos na sua forma plena. Isso foi dito/escrito há algumas décadas, mas acredito que ainda seja verdade.


Vamos mudar isso?


A seguir explicarei o que cada arquétipo e suas variações representam. Mas antes, quero recomendar que você continue a leitura entendendo que todos esses arquétipos influenciam sua vida. Vejo homens tentando eleger qual seria o “meu arquétipo”. Mas entenda que, por vezes, o Guerreiro pode ser muito útil na conquista dos seus objetivos, mas se seu Amante estiver em desequilíbrio na sua vida amorosa, todo o resto da sua vida pode entrar em desequilíbrio.


Mas não se sinta culpado por às vezes expressar as versões desequilibradas dos arquétipos, o processo é longo. O autoconhecimento é uma aventura, durante a qual nos apaixonamos pelo processo de integrar parte por parte do nosso ser. Pense em um bailarino se equilibrando sobre a ponta dos pés: manter o equilíbrio exige esforço, ação e movimento, não é?


Use as diferentes expressões dos arquétipos para se orientar, buscando ter consciência quando seu comportamento está desequilibrado e o que você precisa fazer para voltar para o centro.


Vamos mergulhar nos arquétipos?



ARQUÉTIPO DO REI


Esse é um arquétipo que é ativado toda vez que ocupamos alguma posição de autoridade e responsabilidade dentro da comunidade da qual fazemos parte.


Não se refere somente ao cargo de rei ou presidente de uma nação. Todo ser humano possui em alguma área ou momento da sua vida essa posição de responsabilidade.


Mas fugindo dos aspectos mais óbvios desse arquétipo, entramos na principal virtude que representa sua energia madura: o serviço. O Rei humano, ao contrário do que comumente se pensa, possui a função de ser um grande servo do seu povo. Ele entrega sua identidade pessoal em prol de uma função social responsável pela organização, lei e ordem.


Quando um homem está em uma função social que o coloca em um papel de responsabilidade e/ou autoridade, emerge de suas profundezas o arquétipo do Rei, presente no inconsciente coletivo humano. Como todo arquétipo é uma forma pronta para ser preenchida, o homem vai expressá-lo de acordo com o nível que está seu amadurecimento pessoal. Dessa forma, pode expressar tanto o Rei maduro quanto o imaturo - as distorções ou desequilíbrios.


A personalidade de um Rei, de um governante ou chefe interfere diretamente nas condições do seu povo. Essa figura carrega em si uma grandeza que movimenta a energia de todas as pessoas que estão sob sua responsabilidade. Vemos essa relação energética quando um chefe de uma empresa está equilibrado e, assim, conduz sua equipe a construir o resultado esperado, e também quando um governante desequilibrado leva seu povo à crise e instabilidade.


No filme O Rei Leão, podemos ver claramente como Mufasa, o rei maduro e sábio, traz equilíbrio e fertilidade ao seu reino. Mas quando seu irmão, Scar, assume o trono, a abundância e harmonia se converte em escassez e destruição.


O Rei é o principal dentre os quatro arquétipos, pois ele possui duas funções básicas na nossa psique: organização e dar bênçãos (Fertilidade)


Organização

Em sua função organizadora, ele traça os limites do seu território e conhece cada parte que está dentro e fora dele. Para dentro de si, ele equilibra questões desarmônicas dentro da psique, como emoções caóticas que ameaçam a estabilidade do todo. Conhecendo seus limites, ele sabe se impor de maneira sábia perante situações que ameacem a harmonia do seu interior.


Um bom Rei é também um bom Guerreiro, Mago e Amante, pois organiza as disposições energéticas de cada um, dando espaço para cada arquétipo se expressar e manter a fertilidade criativa necessária, a fim de que todos permaneçam ativos e em harmonia.


Um Rei em equilíbrio sabe manter seu Guerreiro pronto para agir ou se posicionar quando necessário. Sabe ativar seu Mago, quando precisa mergulhar dentro de si para integrar mais uma sombra. Relaciona-se de forma agradável com cada parte do reino através do amor do seu Amante.


O homem que domina a energia madura desse arquétipo possui a ampla visão de quem enxerga a todos e integra pontos de vista conflitantes, tomando decisões criativas que auxiliam na manutenção da harmonia ao redor de si.


Bênçãos/promove

A segunda função do Rei é a de dar bênçãos. Desse lugar de grande visão, o Rei promove quem merece. Quando chega o momento de algo morrer para dar lugar para o novo nascer, é o Rei quem reconhece esse momento.


Para exemplificar essa função do Rei, uso como exemplo a experiência que tive quando fiz uma viagem para a Amazônia, a fim de viver uma experiência ritualística junto a etnia indígena Sateré-Mawé. Enquanto eu me preparava para realizar o Ritual da Tucandeira da etnia Sateré-Mawé, quando o menino morre para dar lugar ao adulto, assumindo responsabilidades com sua tribo. Em um desses dias de preparação, sonhei que me encontrava com um Cacique. Era noite e ele me levou até o alto de um morro. Chegando lá, me falou para seguir sozinho a partir dali, e terminou dizendo: “Chegou a hora de você morrer”. Não tive medo, apenas soube que havia chegado o momento, então segui em direção à uma fogueira, onde um Xamã me aguardava.


O Cacique é como chamamos popularmente a governança máxima de etnias indígenas (o Rei). No sonho, essa autoridade dentro de mim reconhece meu estágio de amadurecimento e direciona o caminho para a iniciação que eu deveria passar. Em alguns casos, podemos passar anos sonhando que somos bandidos fugindo de um Rei ou uma figura de autoridade em nosso interior, simbolizando que corremos do próprio processo de amadurecimento.



ARQUÉTIPO DO GUERREIRO


Era 2012, eu havia acabado de entrar no Exército e fizemos nossa primeira caminhada com a mochila de combate, que pesava aproximadamente 18 Kg. Nela, continha tudo que precisaríamos em uma situação de missão. Havíamos caminhado apenas 1 km e todos nós já estávamos respirando profundamente, com a coluna arcada, mortos de cansaço. O instrutor repetiu diversas vezes que no dia do campo de instrução, que aconteceria em um mês e duraria cinco dias, iríamos caminhar 12 km com ela nas costas e eu pensava: “12 km? Eu não aguento, eu vou morrer.” A vontade era largar a mochila no chão, ou eu mesmo me jogar no chão junto com ela. Mas ninguém estava fazendo isso, todos os meus companheiros estavam sofrendo, gemendo, mas estavam aguentando. Eu olhei o próprio tenente que nos instruía e lembrei que ele já tinha passado por tudo aquilo, então me mantive firme.


Resultado: não só aguentei os 12 km para chegar até o local do campo de instrução, como também suportei todos os cinco dias de campo, onde tínhamos que carregar a mochila para todos os lados que nos deslocamos.


Há um potencial dentro de nós que se não superarmos um limite extremo, nós nunca iremos conhecer. Essa é a energia do Guerreiro. Da superação e da persistência.


Lembro de quando fui morar em Florianópolis em 2014, tinha 20 anos e passei a viver realmente longe dos meus pais. Eu já morava sozinho há dois anos, mas ainda vivia muito perto deles, tinha as contas pagas e tudo mais. Mas agora eu estava por conta própria. Passei pela pior fase da minha vida, estive a um passo da depressão e a vontade do suicídio me perseguia. Mas justamente nesse limiar da crise, onde se tem que encontrar forças que você nunca precisou usar antes, que há o encontro com a energia do Guerreiro.


Não podemos controlar o surgimento das crises. A qualquer momento uma doença, a chegada de um filho, o falecimento de um ente querido, podem afetar drasticamente a sua vida e é a energia do Guerreiro que te ajuda a gerenciar a crise e se manter firme no seu caminho.


O Guerreiro é nossa energia do movimento e da ação, por isso, está intimamente relacionado com a emoção da raiva. A raiva é o que faz o sangue ferver e o corpo se movimentar em direção a uma mudança necessária. Como nesse episódio que contei sobre minha crise emocional, senti raiva da situação na qual me encontrava, dei uns gritos e fui atrás de terapia.


Em razão dessa relação com a raiva, o Guerreiro é um dos arquétipos em situação mais crítica atualmente, tendo em vista o grande número de casos de agressão contra mulheres que as variações desequilibradas desse arquétipo provocam. Na verdade, esse é um arquétipo que o ser humano dedicou especial atenção ao longo de toda nossa existência, visto que é o principal envolvido nas guerras e outros conflitos. Muitas filosofias, como as artes marciais, por exemplo, surgiram como caminhos possíveis de amadurecimento do Guerreiro.


Nesse contexto de guerras e abusos de poder, parte do mundo tem se virado contra o Guerreiro. No entanto, esse é um arquétipo instintivo do ser humano e, de alguma forma, sempre estará vivo em nós. Como falei antes, ele está envolvido com o desenvolvimento da nossa capacidade em superar desafios e crises. Em encontrar saídas em meio às situações que nos colocam para baixo na vida. O Guerreiro precisa urgentemente de direcionamento, observação e disciplina, que é diferente de repressão.


O Guerreiro, na sua energia madura, é extremamente importante para defender e ampliar os limites do Rei: é imprescindível nos momentos que precisamos levar uma ideia, um sonho ou projeto adiante. Ajuda tanto a abrir caminhos na vida quanto a nos posicionar de forma clara e assertiva diante dos desafios.


A raiva, que ferve e induz o movimento, é a energia pura da ação, é como se fosse o combustível. Mas é através da disciplina mental que o Guerreiro alcança seu máximo potencial. Não é à toa que, em diversos filmes de heróis guerreiros, vemos o personagem tendo que treinar até seu extremo, para que os limites mentais sabotadores sejam rompidos.

Conta-se na Bíblia que Jesus Cristo caminhou 40 dias no deserto em completo jejum, tentado continuamente pelo Diabo (sabotador), mas que com determinação se manteve firme no seu propósito e conseguiu obter o preparo necessário para a grande missão que estava prestes a fazer. Qual arquétipo está ativado nessa passagem de Jesus?


Uma mente fraca não sustenta toda potência energética do Guerreiro e tende a permitir a extravasão da energia através da violência ou da sujeição ao medo, tristeza ou culpa, fazendo surgir as faces desequilibradas desse arquétipo.


Através do pensamento, o Guerreiro cria meios de canalizar sua energia e direcioná-la de forma assertiva para seus propósitos. Ele sustenta seus ideais e protege quem necessita da sua proteção: seja esse homem um profissional da área militar ou um ativista, ambos ativam esse arquétipo para levar seus ideais de justiça adiante.


O Guerreiro vibra em todos nós quando a vida nos pede movimento e ação. Ele é a forma madura do arquétipo do Herói, que temos como base na Jornada Solar. O Herói que fez suas passagens e que já não luta mais contra a mãe, o feminino e a Natureza. Ele garante a proteção e o cuidado para quem está sob sua responsabilidade.


O Guerreiro maduro é também a figura do guardião. Ele guarda a passagem entre seu inconsciente e seu consciente. Quando visualiza alguma emoção ou memória que emerge das suas profundezas e ameaça o seu equilíbrio, ele promove a jornada necessária no seu inconsciente para a integração. Ele não foge dos fantasmas do passado que o assombram. Nesse momento, podem surgir sonhos nos quais você é ou está acompanhado de um Guerreiro, uma figura corajosa que enfrenta algum desafio.


Esse é um arquétipo que, mesmo na sua energia madura, necessita dos outros arquétipos. Sozinho, o Guerreiro é perigoso para si e para os outros: sua frieza e foco total no seu propósito podem fazê-lo deixar de olhar para os lados. É o que acontece com muitos militares que desenvolveram toda capacidade de superação, dedicação e propósito, mas seguem cegamente as leis de um chefe, arquétipo do Rei externo, que expressa as figuras de um Tirano, não correspondendo assim ao potencial do Rei, Amante e Mago maduros que ele carrega dentro de si mesmo. Sem ajuda dos outros arquétipos, esses homens acabam cumprindo ordens que agridem aqueles que deveriam proteger.


O Guerreiro precisa de um propósito, pois, sem isso, sua ação fica dispersa. Ao seguir tal propósito, ele não desvia do seu caminho: é como a flecha lançada que não para até chegar ao seu alvo. Você precisa de um “porquê” em sua vida.


ARQUÉTIPO DO MAGO


O que seria do desenvolvimento humano sem a curiosidade e criatividade presente dentro das pessoas?


O Mago carrega a energia do conhecimento e da curiosidade. O que move esse arquétipo é a curiosidade humana em desvendar, cada vez mais a fundo, os mistérios de um determinado campo de conhecimento.


Em culturas nativas, o Mago está presente na figura do Pajé ou Xamã, que é aquele que alcançou um nível de conhecimento que não está acessível aos demais. O Xamã é o porta voz dos segredos da vida e da natureza, conhece os ciclos e as ervas.


Na nossa sociedade contemporânea, vemos o Mago na figura dos cientistas, que mantêm aceso aquele ancestral desejo em desvendar os segredos da vida. No último século, vimos esse lado do mago ascender e se destacar na sociedade, trazendo diversos conhecimentos revolucionários sobre química, física e biologia.


Um grande Rei sempre tem um Mago sábio para lhe orientar, vemos isso nas figuras clássicas do Rei Artur e do Mago Merlin. Assim como atualmente, um governante pouco pode fazer pelo desenvolvimento do seu povo sem um investimento significativo em ciência, tecnologia e educação.


O Mago também está ligado aos processos iniciáticos de morte e renascimento. O Herói, após se entregar ao poder estruturador do Rei, é conduzido ao Mago para que faça seu ritual de passagem. Mesmo na falta dos rituais de passagem, há uma busca inconsciente em todo homem por um sábio, um mago, que lhe orienta em suas transições.

Dentro de todos nós há um Mago que podemos acessar para desvendar segredos do nosso inconsciente. Carl Gustav Jung trouxe o conceito de “inconsciente coletivo”, que seria, de modo genérico, um inconsciente compartilhado entre toda a nossa espécie. Na cultura Guarani, fala-se do Grande Vazio ou Grande Mistério, chamado de Namandu, Grande Espírito. O Xamã é capaz de acessar esse Grande Escuro e trazer conhecimentos importantes para seu povo, assim como o psicólogo ou psicoterapeuta auxilia o seu paciente a entrar em contato com seu inconsciente, com o Grande Escuro que carrega dentro de si.


Sendo assim, o Mago também é aquele que conecta mundos opostos e distintos: material e espiritual, consciente e inconsciente, céu e terra. É uma ponte entre mundos, responsável, ao longo de muitos anos, por ser o porta-voz dos deuses para os seres humanos.


Uma outra característica do Mago é a capacidade de manipulação energética, através do conhecimento dos quatro elementos, ervas, estados químicos e físicos, medicinais, estados psíquicos do ser humano, dentre outros. Ele manipula e transforma.


Portanto, o Mago se manifesta em todos nós quando temos curiosidade em algum assunto específico e nos aprofundamos nele, absorvendo um conhecimento que se destaca dentre as demais pessoas. Nas escolas e universidades, passamos pelos ritos iniciáticos de formação - e lá está o Mago dentro de nós, despertando.


Conhecedor da alma humana, o homem tomado pela energia do Mago maduro faz com que homens dominados pelo Rei Tirano ou Covarde voltem ao seu centro, expondo, de forma sábia, suas fraquezas. Mostra a Guerreiros que se perderam do seu coração o caminho de resgate ao feminino.


Conta-se a história de que, na época de Sidarta Gautama, o Buda, havia um Rei Tirano que era temido por ser impiedoso com qualquer um que lhe cruzasse o caminho. Porém, após conhecer os ensinamentos de Buda, mudou sua postura e se transformou em um Rei centrado, bondoso e querido por seu povo. Foi esse Rei, inclusive, que patrocinou expedições de monges para regiões distantes, o que contribuiu para que os ensinamentos do Buda permanecessem disponíveis até os dias de hoje.


Amadurecer o arquétipo do Mago é dar força a um personagem que nos coloca em sincronia com nossos ciclos de vida e ritos de passagem. É levar adiante o conhecimento e a sabedoria que o ser humano acumula com o tempo.


ARQUÉTIPO DO AMANTE


O arquétipo do Amante fala da nossa capacidade de nos conectar de forma afetiva com outras pessoas e com o mundo. É a nossa capacidade de criar e manter vínculos. Vínculos que nos unem em casal, família ou comunidade.


Rege as sensações, os cinco sentidos e o prazer. Aspectos esses que já foram alvo de reflexão para muitas religiões e filosofias. Se entregar para o prazer ou não se entregar? Como dominar as paixões desenfreadas?


Mas como todo arquétipo, o Amante vive instintivamente dentro de nós: por mais que tentemos reprimi-lo, ele se expressará de alguma maneira.


Esse é o arquétipo mais carente de modelos maduros atualmente, fazendo com que tenhamos extrema dificuldade em alcançar seu equilíbrio. É difícil encontrar um homem realmente maduro no amor e nas suas relações. Em muitos casos, as referências que surgem vem do clássico Dom Juan, galante e sedutor, ou do homem frio e misterioso, estilo Tommy Shelby da série Peaky Blinders, que leva uma vida de negação ao vínculo e ao amor. Ambos se mostram muito atraentes para as mulheres, e para os homens também (inclusive heterossexuais), mas mal sucedidos para fazerem uma parceira(o) feliz. Mal sucedido até mesmo para se fazer feliz, pois se não consegue entregar um amor genuíno para outra pessoa, pouco amor próprio conseguirá entregar para si mesmo.


Fora os modelos pouco saudáveis, também há a pornografia e o largo incentivo ao consumo que contribuem para o afastamento do homem para um pleno desenvolvimento do Amante dentro de si.


A falta do Amante amadurecido talvez seja a principal causa do distúrbio masculino que vivemos nos dias atuais. Sim, pois é através desse arquétipo que o Rei desenvolve empatia com seu povo. Com a ajuda do Amante, o Guerreiro sai da sua retidão fria e aprende a olhar com amor para o mundo, sendo um guardião da vida. O Mago sai da sua avareza intelectual e divide seu poder com os demais, além de se conectar intimamente com a natureza e os ciclos.


A conexão do Amante vai além dos cinco sentidos. Ele sente uma profunda conexão com a natureza que está dentro de si e, por isso, também se conecta com a que está fora, com um profundo sentimento de pertencimento ao todo.


É impressionante o nível de sensação de pertencimento que pode trazer o desenvolvimento do amor. A solidão masculina ocupa um importante espaço no debate sobre masculinidades. São muitos os homens que não se sentem à vontade para compartilhar suas verdadeiras emoções com ninguém, nem com um familiar ou amigo, e por isso se sentem muito solitários no mundo.


Essa solidão é algo que carreguei por muitos anos e mesmo participando de muitos grupos de homens, passando por rituais de passagem, ainda foi algo que me perseguiu até pouco tempo atrás. Recentemente, tive um momento na minha vida, há pouco mais de um ano, que ultrapassou as fortes muralhas do meu isolamento e me fez enxergar que eu nunca estaria sozinho, esse evento foi a chegada da paternidade. É difícil descrever a intensidade do sentimento que nasceu em mim, era como se fosse uma semente de amor plantada dentro do meu interior. Uma semente que começou a crescer semana a semana, afastando as sombras e os fantasmas que ainda tentavam me dizer o quanto eu “nasci para ser sozinho”.


Com essa experiência, finalmente senti um enraizado pertencimento à vida, que elevou o amor entre eu e minha esposa e tem melhorado significativamente o meu relacionamento com o mundo.


Outra característica importante do arquétipo do Amante é que ele possui uma profunda conexão com a mãe, o primeiro vínculo de todo ser humano, mas, no fundo, sua ligação maior é com a Grande Mãe, arquétipo relacionado à própria Natureza, aquela que provê o alimento e o corpo a todos os seres vivos. Nesse sentido, ele entende as limitações e imperfeições da sua mãe física, não projetando nela a perfeita Deusa Mãe que carrega dentro de si.


O homem que alcançou a expressão madura do Amante dentro de si conseguiu encarar e superar os ressentimentos, faltas e mágoas que possui com sua mãe pessoal e, assim, se abriu para uma vivência plena do amor.


Na infância, esse arquétipo se manifesta mais claramente na criança que ama os animais e a natureza, que sonha em ter uma casa na árvore. No decorrer da vida, situações de repressão acontecem no desenvolvimento desse menino, que o levam a se afastar do seu Amante, criando as polarizações distorcidas desse arquétipo.


Em parte, isso se deve a um processo natural de separação da mãe, amadurecimento sexual e conflito entre os arquétipos do Herói, que busca o desenvolvimento da independência através da aventura, e do Amante, que busca o vínculo, o pertencimento e o amor.


Mas todo esse conflito poderia ser facilitado se não fosse a falta de rituais de passagem e um direcionamento saudável feito por referências masculinas positivas para o menino. Os relacionamentos amorosos são o principal evento de expressão do Amante na vida de um homem e, sem um preparo adequado para algo tão importante na vida, acabamos nos relacionando através das expressões distorcidas do Amante.



Para saber mais sobre as expressões distorcidas de cada arquétipo, e como buscar o equilíbrio em sua vida, acesse nosso e-book “Os quatro arquétipos - as faces do masculino”.



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